Quando a gente pensa que sabe todas as respostas,vem a vida e muda as perguntas

31
Mar 06

A insónia é uma perturbação do sono que se traduz na dificuldade em adormecer. Á insónia também se chama espertina. Todos, uns mais, outros menos, já sofremos desta perturbação.Querer adormecer e não ser capaz.Dar voltas e mais voltas na cama e permanecer acordado.

A insónia é considerada um problema de saúde pública.Estudos realizados em vários países apontam que, pelo menos dez por cento da população, identificam os seus problemas em dormir como recorrentes e sérios.Nas causas associadas à insónia estão factores como a depressão, a ansiedade, a obesidade, as alterações horárias, o abuso de café, chá ou tabaco, stress, barulho, vida agitada e ritmos poucos saudáveis.

A falta de um sono reparador causa distúrbios graves como a falta de concentração, a baixa rentabilidade no trabalho, o cansaço físico constante, a irritabilidade, o nervosismo, a ansiedade e até a depressão e perturbações do metabolismo alimentar..

No mundo ocidental este tipo de problemas são frequentemente tratados com químicos com efeitos sedativos. Muitos dos que sofrem de insónias conhecem-lhes os nomes e têm-nos por companheiros inseparáveis.Mas também existem terapias mais ligadas a alterações do estilo de vida que parecem ter um efeito salutógénico sobre o sono.

Mas o sono e as doenças que lhe estão associadas são um registo ambivalente: a doença do sono é sono a mais; a insónia é sono a menos.

Uma e outra daquelas doenças têm as suas ramificações metafóricas: os que dormem em pé , os que dormem à sombra da bananeira e os que dormem acordados. Nestes casos não é nem falta de sono, nem sono a mais. É apenas dormir na forma.

 

publicado por José Manuel Constantino às 08:28

30
Mar 06

 

O problema da competitividade de Portugal no contexto internacional não é apenas um desafio da economia. Coloca-se a todos os domínios onde existe comparação e avaliação. É uma verdade para a economia como o é para a cultura, o desporto, a educação, a agricultura ou a investigação.

Somos um país pequeno e periférico com atrasos estruturais significativos. Temos fortes dependências do exterior. Entre elas, aquilo que devemos. O facto de sermos um país pequeno e atrasado é um problema. Mas não é o problema. Se queremos vencer, a questão só nos obriga, a escolher bem onde e como podemos ser competitivos. Nunca foram as facilidades que treinaram bons comportamentos, mas sim as dificuldades. O problema de sermos pequenos só nos obriga a ser mais selectivos, mais rigorosos e mais exigentes.

A solução está na nossa capacidade de nos organizarmos melhor: de termos objectivos, meios, liderança clara e uma cultura de exigência que é incompatível com a tradicional atitude perante o sucesso: quando existe é resultado do mérito, do talento, e das capacidades individuais; quando existe insucesso, a culpa é do país, de falta de condições, da ausência de vontade politica, em última instância, do Estado. E este tem  as costas largas.

 

publicado por José Manuel Constantino às 08:46

29
Mar 06

Acabar com o Estado-polícia, anuncia o primeiro-ministro no âmbito do conjunto de 333 medidas de combate à burocratização da administração pública.É o programa Simplex.Um programa de simplificação administrativa e legislativa. Palavras suas:”acabou-se com a era do Estado, polícia da livre iniciativa individual,como a era em que se julgava que para cada problema havia sempre uma solução burocrática em que o Estado exigia tudo e a todos sem nenhuma justificação”.

Escutando estas palavras e sabendo que uma parte da administração pública longe de facilitar os procedimentos, continua a espartilhar os cidadãos e as organizações, com mecanismos de controle e de aumento da burocracia de processos, há qualquer coisa, entre as intenções anunciadas e a realidade, que não está ainda a bater certo. Resta aguardar para testar a genuinidade dos propósitos e avaliar o que muda.

publicado por José Manuel Constantino às 08:38

28
Mar 06

O desporto nasceu na Europa. As principais modalidades desportivas surgiram na Europa. As principais organizações desportivas internacionais foram criadas e estão sedeadas na Europa. As mais importantes competições desportivas internacionais tiveram a sua origem na Europa.A história do desporto mundial não é redutível à história do desporto europeu. Mas ocupa nela a sua parte mais significativa. São razões suficientes, históricas e culturais, para pensar que no âmbito da construção europeia o desporto deva ocupar um espaço próprio e significativo como prática social de génese e de forte tradição europeias. O que, infelizmente, não tem ocorrido.

A questão europeia tem sido motivo de inúmeros debates, reflexões e acesas discussões. Poucas são as áreas de actividade social do país que não tenham sido atravessadas por esses debates. O desporto nem tanto. Em parte, porque o desporto, enquanto espaço de uma importante actividade comunitária tem tido o seu debate quase que circunscrito às questões do desporto profissional. E a dimensão económica do desporto retira substância a uma visão política quanto ao papel do desporto na construção da identidade europeia. Mas, também, porque o país é tributário de um défice de debate em torno das questões de política desportiva europeia.

As questões europeias do desporto estão muito marcadas pela livre circulação dos desportistas decorrente do chamado acordão Bosman. O que é pouco e o que é, passa ao lado do mais importante: qual é a lógica das políticas desportivas europeias e em que sentido caminham? Que contributo pode dar a política europeia, de modo a que os sistemas desportivos sejam mais fortes, mais coesos, mais solidários e mais desenvolvidos? O que significa a União Europeia para o desporto? Esta são algumas das perguntas que têm de ser respondidas.

publicado por José Manuel Constantino às 09:01

27
Mar 06

“Não acredito que o papel do Estado seja cuidar da vida de toda a gente”.A afirmação não é de um liberal mas de um socialista, José Sócrates. E talvez seja essa origem que o deixa incólume perante a esquerda e a direita, ambas, ideologicamente marcadas pela omnipresença do Estado.

É certo que, Tony Blair e a sua terceira via, de há muito tinham recuperado  a melhor tradição liberal mas em Portugal os socialistas ( e só alguns) tardaram em perceber que o Estado não serve para tudo e tem de servir sobretudo para os que mais necessitam. Não me recordo se ter ido tão longe. O que revela confiança, firmeza e ventos políticos favoráveis.

José Sócrates, sem o pretender, deu mais uma razão ideológica para esbater o que hoje separa socialistas, sociais-democratas e liberais. Cada vez menos questões de doutrina e de ideologia e cada vez mais questões de eficácia governativa Compreende-se por isso que José Sócrates diga que a oposição tem “uma pontinha de ciúme”perante o que o governo tem anunciado. Mas é bondade de José Sócrates. A oposição só formalmente existe. O que também é mérito de José Sócrates.

                                

 

 

 

publicado por José Manuel Constantino às 09:43

24
Mar 06

Ontem fui ao lançamento de um livro. Não, não é bem assim: ontem fui ao lançamento do livro de um amigo. Assim está bem melhor, porque não é tanto o livro que me moveu, mas o amigo. E parece-me que assim é que a ordem do dia está perfeita: movermo-nos pelo sentimento. Pois bem, como ia dizendo, lá fui ao lançamento de um livro que já me era muito especial, porque tive o prazer de fazer a capa do mesmo. Inicialmente, a coisa não foi fácil tendo em conta o tema: Desporto, Geometria de Equívocos. O meu amigo é assim, intelectualmente válido mas, por vezes, muito rebuscado. Depois, aqui a Je, é que tem de repensar numa imagem que tivesse a ver com o tema. E logo eu que do desporto só sei o que, forçosamente, vejo na TV ou ouço por aí, isto é, tenho um conhecimento muito rasteiro, muito à flor da pele. Peguei na geometria e nos equívocos e lá se criou uma imagem que ia desde uma forma geométrica até à fatídica bola de futebol. O autor gostou. A editora idem aspas e aqui a menina ficou sensibilizada pela escolha. Fui ao lançamento ontem, na Faculdade de Motricidade Humana. O lançamento correu entre amigos, o que muito em agradou. Foi como aqueles casamentos onde só vão os que gostam mesmo do casal e não aqueles onde convidam os tios que já não se vê há décadas, os amigos invejosos, o canário e o piriquito… nã, nã, nã, ali respirava-se amizade e contentamento por um amigo, daqueles que há poucos, estar no culminar de um trabalho que o moveu durante um tempo largo e ao qual se dedicou. Fiquei feliz por ele (amizade, já devem ter ouvido, tem destas coisas: ficamos contentes com a alegria dos outros). Bati palmas. Sorri a gosto e no fim, bem, no fim lá me preparava para vir embora quando uma amiga desse meu amigo me chamou a atenção para um risco, sim um risco, que estava na parte de trás do livro e que, por engano do editor, tapava uma pequena, pequenina palavra. Disse-me logo, com as sobrancelhas arqueadas que era um erro. Ai, ai, ai, como é que eu tinha feito aquilo. Ai, ai ai… Eu, parva que nem um soco, justifiquei-me, dizendo que não tinha sido assim que tinha enviado a imagem e tal e coisa e mais que tal, e entenda, e perceba, é que, pois… bem… lá vim embora triste por não haver viva alma que dissesse que a capa estava gira, ou mesmo que nada dissesse. Não, só se lembram de dizer do que está mal. Nós somos mesmo assim: exaurimos o que de bom os outros têm e salientamos o que de mau podemos fazer. Claro que o que eu devia ter dito à senhora era que esperava que ela fosse tão critica em relação ao seu trabalho como o é com o trabalho dos outros… mas não, isso não me saiu. Hoje li o que esse meu amigo escreveu no Blog e reflecti no dia de ontem. Ele, mais uma vez, tem toda a razão: “Gastamos mais tempo a dizer mal dos outros do que a apreciar o bom exemplo…”. Para o meu amigo, aqui ficam as palavras de parabéns sentidas. De admiração. De obrigada. À amiga do meu amigo… bem, nada digo, senão ainda me esqueço de um acento, ou uma palavra fica pegada à outra e aí, bem, ai ainda levo um puxão de orelhas!

publicado por carla cristina rocha às 15:23

Gastamos mais tempo a dizer mal dos outros do que a apreciar o bom exemplo dos outros. Convivemos mal com o sucesso alheio. Quando alguém o consegue encontramos sempre razões que atinjam ou diminuam esse sucesso. O respeitar e valorizar o outro não está no nosso código genético. O fazer ainda melhor que o outro não se inscreve na nossa mentalidade e maneira de ser. Em seu lugar, reside o fazer o que outro devia ter feito e não fez.O de nos desculparmos em não poder fazer, porque o outro o não fez.O de encontrar culpa sempre no outro, com meio de elevar o nosso próprio mérito. E nesta enunciação se valoriza o enunciador e se desvaloriza o outro.

Está no carácter de muitos poucos, admirar quem lutou, quem prosperou e quem se afirmou. E esta marca identitária limita a nossa capacidade enquanto povo. Não há plano tecnológico ou outro que expurgue esta dimensão da nossa vida que nos consome tempo e energias. E que nos limita enquanto povo e nação.

 

publicado por José Manuel Constantino às 08:56

23
Mar 06

O discurso desportivo é, em grande número de situações, de natureza axiomático e apologético. Evidencia-se por si mesmo. Não carece de demonstração. A sua enunciação é a prova das provas. É um discurso intelectualmente preguiçoso. Estruturalmente conservador. Constrói sobre si próprio uma visão que se impõe como coisa natural, automática, sem necessidade de recorrer à reflexão ou ao debate. Qualquer interrogação ou dúvida tendem a ser consideradas como arrivismo intelectual, senão mesmo como agressão à coesão e identidade do próprio desporto. Coisas mais próprias de adversários, do que dos seus defensores. No discurso desportivo há matérias que nunca são enunciadas. Outras são puramente ocultadas. Uma e outras não têm assim, possibilidades de serem criticadas. Esta verdadeira ditadura discursiva bloqueia a capacidade de pensar e reflectir criticamente o universo das práticas e dos sistemas desportivos.

O desporto está rodeado por uma cerca de geometria variável onde proliferam os equívocos. Onde abundam os interditos. É necessário um exercício que nos obrigue a discutir as evidências de modo a evitar que se atribua ao desporto o que ele não é, nem contém.

Desporto, Geometria de Equívocos é o conjunto de reflexões que, sob a forma de livro, será hoje publicamente apresentado.

 

publicado por José Manuel Constantino às 14:29

22
Mar 06

As sociedades modernas são sociedades invadidas de informação, crescentemente dependentes no seu tempo, da informação produzida, cada vez mais influenciadas e moldadas por padrões, imagens e ritmos impostos pelos “média”, sobretudo a televisão. A autonomia dos processos sociais e económicos está contaminada, nos seus aspectos positivos e negativos pela comunicação social. O desporto não escapou a este processo e tem hoje, perante este verdadeiro poder, uma clara dependência. As melhores audiências são as audiências desportivas. A televisão, não é apenas uma grande evasão, tornou-se, sobretudo, a grande invasão.

Os investimentos no desporto são inseparáveis da lógica do espectáculo desportivo fortemente mediatizado. O que o torna um dos maiores mercados publicitários mundiais é a osmose que se estabeleceu entre um evento desportivo e a sua possibilidade de transmissão televisiva à escala mundial. Só que a televisão, mais do que transmitir um acontecimento, tem produzido o próprio acontecimento. Crescentemente, são maiores as influências da televisão sobre o produto desportivo, do que o seu contrário. É, à escala do desporto, a inversão da tese segundo a qual a comunicação social reflecte a sociedade. Cada vez mais a sociedade é o reflexo da comunicação social e particularmente da televisão.

O futuro acentuará esta clara dependência do espectáculo desportivo a lógicas exteriores ao próprio desporto. A dúvida, a existir, está apenas em saber os limites desse condicionamento. Não o sabemos. Mas num contexto em que o mundo do desporto é atravessado por dinâmicas que conflituam com a perspectiva humanista que em parte reivindica, este ascenso de incertezas, torna essencial a função cultural. Não porque dela se possam esperar todas as respostas. Mas porque é na formação cultural que podemos encontrar o modo de formular as perguntas necessárias e dotar as pessoas dos meios para encontrar as respostas que os tempos de incerteza exigem.

publicado por José Manuel Constantino às 14:14

21
Mar 06

Lê-se e custa a acreditar ser possível: um procurador do ministério público levantar um processo crime a uma autarca que, supostamente, teria fotocopiado um processo em que está constitituido como arguido através de uma fotocopiadora pertença da autarquia com a ajuda de uma jurista, sua familiar, que estando de férias o terá auxiliado nessa tarefa.

O primeiro seria acusado de peculato ao usar um equipamento público para um fim privado; a segunda de ter cometido o ilicito de ter tirado fotocópias em período de férias, período que é inalienável para outras tarefas.

Se tudo isto é verdade ( a fazer fé na notícia  a fotocopiadora era privada) estamos perante a interpretação do direito elevado ao exercicio do absurdo.Uma pessoa em férias não é livre para poder fazer o que muito bem entende, inclusive ajudar uma outra pessoa; um titular de cargo público vai ter de pensar duas vezes, no uso de um equipamento público que lhe está atribuído ou à sua guarda ( o que vale para uma fotocopiadora vale para o papel onde se escreve,o telefone ou a viatura) o que é elegível como serviço público e o que pode cair na alçada de uso indevido de bem público. A fronteira é,em muitas situações, arbitrária.

A mesma norma que procura punir um titular de cargo público pelo uso indevido de uma fotocopiadora, rotina normal em qualquer autarquia, escola, faculdade ou ministério é a mesma que vai perseguir um funcionário que usando o telefone do serviço liga a perguntar à mulher como se encontra ou que usa o computador para enviar um mail a um amigo.

E já agora puna-se quem, nas repartições públicas e nos ministérios, tem uma máquina de café cujo acesso é gratuito e a aquisição do produto é feita com dinheiros públicos.

Esta onda de justicialismo lembra-me aquele velho professor da Faculdade de Direito que persistentemente lembrava aos seus alunos que, entre o direito e a justiça, escolhessem sempre o lado da justiça.E do bom senso, acrescento eu.

 

publicado por José Manuel Constantino às 08:56

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Autor: JOSÉ MANUEL CONSTANTINO
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