Aprecio o escritor. Não suporto o moralista. Se só escrevesse e falasse do que escreve, que bom seria. Mas não. Entende que deve penhorar sobre o modo como o mundo se deve organizar. E fá-lo quase sempre de um modo altivo, retórico e de quem é suposto possuir uma superior autoridade moral, legitimada porventura pela prebenda nobélica. José Saramago a propósito das palavras do Papa sobre o Islão insinua que se “alguém escreveu o discurso de Bento XVI e ele não o leu antes “foi imprudente”e se o leu e ”não retirou a referência a Maomé”foi ainda pior”.É claro que se não deve pagar na mesma moeda insinuando que parte do que ele próprio escreve ou lê é preparado pela actual companheira, sua porta-voz e ex-jornalista. É irrelevante quem escreveu o discurso do Papa. Como intelectual tem capacidade já demonstrada para escrever todos os seus discursos. O que é substantivo é o que disse. E o que disse tem um mérito: provoca-nos a discutir o papel das religiões na sociedade actual.