Em1964 no Liceu Nacional de Santarém uma turma do 4ªano faltou a dois tempos lectivos para poder participar no funeral do filho de um seu professor. A atitude dos alunos foi considerada pelas autoridades da época uma desobediência muito grave, um desafio às leis vigentes e a falta colectiva equiparada a uma greve o que era para a altura uma verdadeira afronta. A turma foi castigada com uma repreensão por escrito e o suposto líder do acto colectivo(cabecilha na linguagem das autoridades escolares), então com 14 anos ,suspenso por 5 dias ,o que foi a mais a mais gravosa pena aplicada no Liceu de Santarém.
Em 2007,no inicio do mês faleceu um jovem professor que há 19 anos leccionava numa escola do Concelho de Oeiras. A comunidade escolar consternada perante a surpresa do ocorrido e pela simpatia que nutria pelo professor quis associar-se às cerimónias fúnebres. A direcção da escola pediu às autoridades escolares autorização parar encerrar a escola e assim permitir a professores, alunos e funcionários estarem presentes no funeral. A resposta foi negativa e autorizada apenas a presença institucional de dois representes da escola.
Entre uma e outra situação passaram 43 anos. Mas a ausência de sensibilidade afectiva, de bom senso e desrespeito pelos sentimentosos daqueles que sofrem por ver partir quem gostam mantém-se. Triste país.
Em 1964 vivíamos em ditadura. Hoje, felizmente, em democracia. Mas há qualquer coisa que como povo se mantém. A dor e a sensibilidade por aqueles que nos deixam e de quem gostamos. A prepotência de quem tem poder mas não tem razão e se limita à aplicação cega de uma qualquer norma ou burocracia.