Minha mãe tem sete irmãs. Todas mais velhas. Uma delas, a minha tia favorita, com 70 anos, foi a primeira da família a divorciar-se. Algo que lhe pesa imenso na alma e vê-se no andar, cabisbaixo, como se um pecado de lesa alma se tratasse. Não se dando bem com o marido, um dia saiu de casa, debaixo de choros, para casa de uma irmã para pensar na vida. Quando voltou, seu espaço estava ocupado por uma brasileira, 30 anos mais nova. Minha tia nunca mais viu o marido e ele nunca mais a procurou, até ao casamento do filho, meu primo, no passado Sábado. Encontraram-se, tia, tio e brasileira, numa igreja para os lados de Vila Real. Evitaram-se o tempo todo. Mas, depois dos comes e bebes, a dada altura, ela pergunta-lhe por que fez o que fez. Ele responde que já não havia nada entre eles e palavra puxa palavra, meu tio pergunta-lhe: «Dá-me um motivo, só um, para termos ficado juntos», aí esperava uma resposta inteligente, incisiva, mordaz daquela que sempre foi a tia mais espevitada, mas ela, de olhos marejados de lágrimas, no seu fato conservador e aliança (ainda) no dedo respondeu: «Comeste-me a carne, devias roer-me os ossos». Estranhei a resposta. Franzi a testa e olhei para a zona do baile… a brasileira dançava, de forma exuberante, alheia a todo o tumulto, olhando de quando em vez para meu tio, com trejeitos sensuais e sedutores, uma música brasileira que dizia: «Estava tão tristonho quando ela apareceu…». E aí vi, que ao contrário da minha tia, meu tio tem motivos de sobra para continuar com a brasuca… pelo menos ainda tem de comer muita carne até chegar aos ossos!