Quando a gente pensa que sabe todas as respostas,vem a vida e muda as perguntas

31
Mar 08

Era inevitável. Passamos rapidamente do oito para o oitenta. Criminalizar ou judicializar os actos de indisciplina escolar é o modo mais rápido de desresponsabilizar a escola e os professores. Revela o desnorte de quem  não tem a mínima ideia do que se passa numa sala de aula ou num recreio. Do que é responsabilidade da escola e obrigação dos alunos. E do que claramente lhes escapa. Tal como os treinadores de bancada, que sabem sempre qual é a melhor táctica para o seu clube ganhar, na escola também temos muitos ”professores de bancada”.E já não chegam os conhecidos:  juntam-se agora o Presidente da República e o procurador-geral da República. É  sempre mais fácil chamar o procurador do que a ministra da educação e pedir explicações sobre como é possível haver professores que autorizam os alunos a ouvir música nas aulas.Com  o silêncio dos sindicatos que acham tudo isto normal e não alcançam que a entrada em cena destes actores  é, a prazo, uma forma e  um convite à demissão do exercício da autoridade escolar.

publicado por José Manuel Constantino às 11:42

29
Mar 08

Lloret del Mar é uma modesta vila balnear perto de Barcelona tão feia quanto a Costa da Caparica e urbanisticamente tão desordenada quanto a Quarteira. É hoje um nicho de mercado para as viagens de finalistas dos cursos secundários. Bebe-se sem limites,”curte-se” à vontade e o sexo, individual e em grupo, é feito sem grandes restrições. Não há pais, nem professores. Os actos de vandalismo, roubos e insubordinação não chegam até cá não vá o negócio de lá estragar-se. A novidade deste ano é, de acordo com o Expresso, a presença do célebre e televisivo “emplastro”.Este é um “target” muito apetecível diz num registo modernaço o responsável de uma das agências promotoras enquanto explica que os mercados emergentes são os jovens dos 4º e 9º anos ou seja com 9 e 14 anos. Tudo numa boa! Até que um dia suceda qualquer acto de maior gravidade e se decida, então, colocar ordem e segurança onde ela não existe.

publicado por José Manuel Constantino às 19:55

28
Mar 08

É dos manuais. Na política há sempre uma agenda retórica e uma agenda oculta. As justificações apresentadas para a descida a partir e meio do ano de 1% do IVA fazem parte da agenda retórica: os sacrifícios valeram a pena. As próximas eleições fazem parte da agenda oculta: é preciso começar a descomprimir e responder aos sinais de crescente descontentamento e conflito sociais.

publicado por José Manuel Constantino às 15:59

27
Mar 08

A repetição até à exaustão do vídeo da agressão à professora na Carolina Michaellis corre o sério risco de ter os efeitos contrários aos pretendidos. O acto banalizar-se-á e os seus autores transformar-se-ão em verdadeiros heróis entre os jovens. Basta ouvir algumas das suas conversas. Não se censura o acto mas  cada um defende o melhor modo de “fazer aquelas coisas”.E de enganar os professores. E já agora que se ouçam os jovens sobre as razões porque uma turma turbulenta e  mal comportada em algumas aulas o não é em outras .Entre os menores que o Procurador-geral da República se quer encarregar e a maioria dos jovens há todos os outros cuja opinião e sentido críticos não se perde nada em conhecer.Até para percebermos  que nem toda a indisciplina escolar é redutível à violência e que existem matérias que estão na órbita da responsabilidade das autoridades escolares e outras que claramente lhes escapam.

publicado por José Manuel Constantino às 15:22

26
Mar 08

Na Assembleia da República, a casa da democracia, faz parte da praxe parlamentar um deputado chegar quando muito bem lhe apetece. Atender o telefone e enviar ou receber mensagens com os trabalhos a decorrer. Interromper alguém que está a usar da palavra antes do orador concluir. Abandonar o lugar e sair quando um colega está no uso da palavra. Ler o jornal com os trabalhos a decorrer. Falar para o lado. Rir e galhofar quando se pretende desvalorizar algo com o qual se não está de acordo. Bater com as mãos no tampo da mesa e com os pés no chão quando se quer protestar.Chega.Compreendemos  o que valem  estes exemplos.A tragédia  que estas condutas encerram é que são entendidas como naturais e legitimas.Por quem as faz,por quem as permita e por quem as não censura.Na casa da democracia são naturais para o funcionamento democrático.Na sala de aula são o resultado da falta de autoridade do professor e da má educação dos alunos.

 

 

 

 

 

 

publicado por José Manuel Constantino às 09:45

25
Mar 08

Portugal tem os seus atrasos mas com o tempo a coisa vai. Quando as jovens inglesas depois de uma noite de prazeres e outras volúpias quiseram dar a conhecer ao mundo o que se passou na mansão do Cristiano Ronaldo não colocaram o registo que captaram através do telemóvel no You Tube. Falaram par o Sun e fizeram o preço. No Carolina Micaelis tudo se passou com um maior amadorismo. Depois da festa na sala de aula nada como partilhar o momento com toda a malta. No futuro o exemplo inglês pode ser adoptado. Mas mesmo sem esse exemplo o país foi tão sacudido que até  o Procurador-geral da República pede um reforço da autoridade dos professores e alerta para a criação de gangs a partir das próprias escolas. Gostava de saber que medidas sugere para reforçar a autoridade dos professores, sendo certo que não deve estar a pensar no regresso à vara , à régua, ao carolo ,ao puxão de orelhas  ou à frequência de aulas de defesa pessoal. Vou aguardar para saber quanto tempo vai demorar a requerer-se segurança privada no interior dos estabelecimentos de ensino. E os detectores de metais à entrada das escolas não serão uma invenção nacional. Os especialistas dividem-se: para uns tudo se resolve com meia dúzia de tabefes; para outros a culpa é dos pais; para outros da ministra; para outros do regulamento do aluno; para outros da organização da escola; para outros a culpa é do Veiga Simão, do Roberto Carneiro e do Marçal Grilo.O governo acha que o problema vem de fora, que está na sociedade,o que é uma apreciação original e brilhante como são quase todas as dessa grande referência socialista que dá pelo nome de Valter Lemos.Nunca ninguém tinha pensado nisso nem o Miguel Sousa Tavares que fala dos professores e do ensino de papo cheio e como resultado da longa experiência de muitos anos de estudo e acompanhamento dos problemas escolares.Com tantos especialistas e conhecedores da matéria, resta uma questão: por que razão com tantas soluções e especialistas, Portugal, bem como uma boa parte dos países ocidentais, são  confrontados com o exercício crescente da violência sobre os professores, por parte de alunos e de pais?

publicado por José Manuel Constantino às 13:19

24
Mar 08

Quem pagou o vestido da noiva e o fato do noivo? Que prendas receberam e sob que forma? Qual  foi número de convidados para a boda, entre adultos e crianças? Quem pagou ou ofereceu as flores? Quem tirou as fotografas? Estas são apenas uma pequena parte das informações que quem casou está obrigado a prestar à Direcção Geral de Contribuições e Impostos. E para tanto solicitam-se fotocópias de todos os documentos que permitam identificar os valores pagos ou recebidos bem como fotocópias de cheques, extractos bancários, cadernetas bancárias, etc. Em nome da arrecadação fiscal a coscuvilhice e a deriva burocráticas são tantas que quem quiser casar e não ficar á mercê deste obsessão fiscal e das correspondentes multas só tem uma solução: entregar o casamento a uma empresa de contabilidade.

publicado por José Manuel Constantino às 10:21

22
Mar 08

O que sucedeu à professora da escola do Porto que tentou tirar um telemóvel a uma aluna em nada difere,no essencial, de casos que diariamente ocorrem nas salas de aula. Uns que são conhecidos, outros que por vergonha dos professores tão pouco são formalmente denunciados. E ocorrem hoje como ocorreram no passado. Na escola a autoridade do professor sempre foi posta em causa e as violências físicas e/ou verbais sobre ele não são uma característica da sociedade contemporânea. O que mudou com a massificação do ensino e as alterações sociais foi a extensão do fenómeno, as suas características e a sua mediatização. E sobretudo a incapacidade da escola e da sua organização lidar com estes fenómenos. No passado atribuíveis, pelo sociologismo primário, a desvios de crianças advindas de meios sociais problemáticas e recentemente de acordo com os opinadores oficiais à responsabilidade da família. Para os políticos do reino o mal reside no estatuto do aluno. Mas nem vale a pena discutir este assunto com um país que tudo tem feito para destruir a imagem da escola pública e a autoridade do professor. E não me refiro apenas às políticas públicas. Mas também às políticas de formação de professores. Ser professor sempre foi uma profissão de risco. E assim vai continuar a ser passada que seja a febre pascal e agenda mediática tenha outras coisas com que se entreter.

publicado por José Manuel Constantino às 12:40

20
Mar 08

Deixei a profissão de professor há mais de duas décadas, com um curto intervalo na docência universitária, mas que é irrelevante para este comentário. Isto para dizer que o que conheço hoje do ambiente das escolas e dos professores resulta do contacto com a escola na qualidade de encarregado da educação. Este conhecimento restrito sobre a realidade escolar levou-me a solicitar a documentação relativa ao modelo de avaliação dos professores. Não para perceber a posição dos professores - intuo uma reserva de princípio, embora não assumida enquanto tal- nem a teimosia e rigidez do ministério da educação porque faz parte da respectiva matriz de governação. Mas sobretudo para tentar compreender a voracidade critica de alguns opinadores quanto aos professores e a favor do ministério. E da leitura que fiz custa-me a acreditar que quem leu seriamente a documentação de suporte e conhece minimamente as escolas possa admitir que quem produziu tais orientações viva neste mundo. Porque se quem escreveu o que escreveu e falou o que falou, estudou previamente o que comentou, então o caso já não é do domínio da desonestidade intelectual mas, como ontem escrevia José Gil na VISÃO,”clinicamente estamos perto do delírio”.

publicado por José Manuel Constantino às 10:32

19
Mar 08

O país respira de alívio com a formulação de uma proposta tão urgente, prioritária e estruturante como a da idade e o sítio em que se podem fazer buracos no corpo e colocar dispositivos metálicos. Bem-haja quem assim pensa. É um pensamento transversal. É para isso que o Estado também existe. Para eliminar os buracos. Para cuidar do corpo dos nossos jovens e dizer aquilo que eles podem com ele fazer. É feio deitar a língua de fora, mas vai ser preciso para saber se cumprem a lei. Não é bonito baixar as calças para mostrar os ditos, mas vai ser preciso para saber se não colocaram lá, o que não devem. E elas a coisinha que é para ver se está tudo em ordem. E já agora não se esqueçam das orelhas. Mesmo que isso prejudique a centenária  ourivesaria e filigrana nacionais e a tradição das famílias. A obsessão e a cruzada sanitárias devem continuar e merecer todo o nosso apoio. Furar sim, mas com qualidade. E só partir de uma certa idade. Força Renato!

publicado por José Manuel Constantino às 09:56

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Autor: JOSÉ MANUEL CONSTANTINO
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