Uma candidatura a um grande evento internacional precisa de dois elementos persuasivos: um estudo de viabilidade económico-financeiro que demonstre quão benéfico é para o país; uma tese em que se demonstre que o evento se paga a si mesmo. Há quem se dedica, por bom preço, a uma e a outras das encomendas. É o negócio dos eventos. Porque só um insano pode estar contra algo que preencha aqueles dois quesitos. Se é bom para o país e se paga si mesmo pois que venha o evento. Só não se compreende é que, algo que se paga a si mesmo, careça do dinheiro dos contribuintes. E aqui começa a novela.
O legado dos eventos é hoje uma matéria de crescente atenção. Saber o que fica depois de levantar a tenda e recolher as canas dos foguetes. O que fica por pagar. Ou por manter. É preciso fazer bem a conta para lá do fascínio da festa. Isto é essencial sempre que está em causa dinheiro público.
Um evento que se paga si mesmo é algo em que as despesas que envolve são suportáveis pelos proveitos que gera. E um evento que estimule a actividade económica e financeira é algo em que se acrescenta valor à actividade económica. Um grande evento, desportivo ou de outra natureza, por norma, preenche o segundo dos quesitos, mas não necessariamente o primeiro. Razão que obriga a que não possa sobreviver sem ajuda do financiamento público. Foi assim na Expo98,na construção dos estádios do Euro, no autódromo do Algarve, no Lisboa – Dakar. E é assim nas corridas de popós e de aviões. Muito retorno para o país, muito incentivo à economia nacional. Mas não nenhum deles prescinde do dinheirinho dos contribuintes. Que pode ser em cash. Em bens ouem serviços. Ou tudo. Pudera! Quem organiza não o faz pelos nossos bonitos olhos. Mas porque, à partida, lhe garantem um retorno cujo risco pretendem que seja nosso e não de quem se propõe organizar. É o empreendedorismo público-sustentado. Por nós.
Publicado na edição de hoje do Primeiro de Janeiro