Por que razão faz o governo desta maneira e não de outra? Por que motivo se escolhe esta pessoa e não aquela? Quando procuramos responder a estas questões fazemo-lo com os elementos de que dispomos. Porque a construção da decisão política é um exercício opaco. O que é público é a decisão. O modo como se chega a ela escapa-nos. Podemos intuir. Mas interpretamos a decisão com os dados disponíveis que são apenas uma parte dos que estiveram na construção da decisão. Normalmente a parte que é disponibilizada por quem decide. O que comporta a possibilidade de erro ou de ter uma opinião diversa caso fosse possível ter todos os elementos que contextualizam a decisão. Obviamente que isso não é possível, embora a gestão democrática de decisão politica recomende que quem governa explique os fundamentos das decisões que toma. Sendo certo que mesmo este procedimento tem naturais limites.
Este governo quis fazer da contabilidade dos ministros e da constituição dos gabinetes uma marca política distintiva em relação ao anterior governo. Fez mal. Porque ficou prisioneiro de algo que o tempo pode não aconselhar como recomendável. E depois a solução é sempre a de inventar modos de iludir que se não está cumprir o que se anunciou. Mas fez mal também porque o problema que interessa ao país não é o da quantidade de membros dos gabinetes ou do governo é o da necessidade e qualidade do serviço que prestam. Que importa serem menos e a despesa ser menor se o serviço que prestam é pior?
A juvenilização do recrutamento político para a organização do governo e dos respetivos gabinetes de apoio está a ter consequências na qualidade da governação. Pessoas com reduzida maturidade, conhecimento político e até experiencia de vida. Recrutados, em muitas circunstâncias, em gabinetes de advocacia e designados como especialistas, adjuntos ou assessores, os seus currículos e méritos profissionais não casam, em número significativo de casos, com os conhecimentos e competências exigíveis às responsabilidades públicas assumidas. O que prejudica a qualidade da decisão politica que preparam ou influenciam.
A partidarização do aparelho de Estado e da administração pública (jobs for the boys) seria um problema menor se estivesse restringida à cor partidária. E essa não deve ser fator de penalização. O problema é que a essa se junta, muitas vezes, o da impreparação politica e técnica para as funções atribuídas. E essa sensação é insuportável e socialmente censurável. Os ciclos políticos mudam e todos anunciam que com eles a coisa vai ser diferente. Mas, pouco tempo passado, infelizmente, tudo volta à normalidade. Que o mesmo é dizer às práticas que antes se condenavam.
Texto publicado na edição de hoje do Primeiro de Janeiro