A “mística” do socialismo (na sua versão social-democrata ou comunista) reside no ideal de igualdade. Sacrificando a democracia e a liberdade na versão comunista. Na versão social-democrata sacrificando a igualdade em nome da democracia e da liberdade. Com a implosão do comunismo soviético tudo se baralhou. O capitalismo passou a ser a única forma de vida económica compatível com qualquer regime: ditadura de direita, ditadura de esquerda, monarquia constitucional e república democrática (Tony Judt). À esquerda, à direita ou ao centro. E o ideal de igualdade ficou nos textos e na retórica discursiva. O exemplo mais claro dessa implosão é a China comunista cujo grau de desenvolvimento económico é feito à custa de baixos salários e de baixos direitos que não penalizam apenas os trabalhadores chineses mas as economias (e os trabalhadores) dos países com quem competem no mercado global.
Nas democracias ocidentais o modelo socialista/social-democrata procurou demonstrar a sua superioridade ao modelo comunista através de um Estado que garantindo a liberdade e a democracia mais do que regulador era sobretudo distributivo e se encarregava de garantir direitos. Que foram crescendo ao longo dos tempos. De tal maneira que se chegou ao limite de distribuir mais que aquilo que se cria.
Durante muito tempo desenvolveu-se a ideia de que o Estado era a boa solução para tudo. Estamos a viver um momento em que, por força da falência do modelo económico em que se sustenta o Estado-providência precisamos de não cair no oposto: a de que o Estado é sempre a pior opção. Porque a única coisa pior que Estado a mais, é Estado a menos (Tony Judt).
Como não podemos viver sem Estado a melhor solução é melhorá-lo. Para esse efeito a discussão não deve ser entre mais/menos Estado. Mas entre um Estado eficiente/ineficiente. O que requer uma discussão sobre o papel do Estado da sua missão e funções. É certo que o estado de contingência das contas públicas pede sobretudo cortes e redução da despesa. Ou seja menos Estado. Dirão algum que não tem de ser necessariamente assim. Mas vai ser.
Nas próximas anos décadas vamos ter pior Estado. A situação de urgência em que nos encontramos pode ajudar a explicar a situação. O que não explica é a fuga à discussão sobre o seu papel e as suas missões. Afinal aquilo que no passado alimentou convicções. E modelos de sociedade.
Publicado na edição de hoje do Primeiro de Janeiro