Quando a gente pensa que sabe todas as respostas,vem a vida e muda as perguntas

25
Jan 13

O estatuto e a respeitabilidade de quem exerce cargos de natureza pública requerem reserva e discrição. A sua constante exposição aos tempos e às regras da sociedade mediática degradam a imagem que se cria a respeito das pessoas que exercem esse tipo de funções. O recurso a comentadores políticos de pessoas que no passado tiveram responsabilidades partidárias e atualmente exercem funções de responsabilidade pública é um trunfo mediático. Mas com elevados riscos.

 O comentário político tornou-se um exercício competitivo. De audiências e de revelações. E de ajustes de contas. O comentário deixou de ser para analisar o que ocorreu mas também para cenarizar o que vai acontecer. E neste terreno ganhar ao outro comentador. O frenesim em divulgar algo que supostamente deveria ser de conhecimento restrito impressiona. Para tanto disputam-se as fontes e cada um tem os seus canais/informadores privilegiados. Não passa uma semana em que não revelem o que deveria ser reservado. A obsessão por aparecer em tudo o que é mediaticamente relevante complica. Os seus amores e dos seus ódios não são esquecidos. Alguns rivalizam com outras figuras que regularmente ocupam o espaço comunicacional. Disputa-se a sua presença em colóquios, conferências e lançamentos de livros. Tornaram-se um novo nicho do mercado de tudo quanto é mídia. É indisfarçável a atracção que o espaço mediático sobre eles exerce e a irreprimível tentação de participar na rave da democracia. Parte desses novos e velhos opinadores procuram recuperar o tempo quando perderam na militância política e partidária. Fazem política, de que só formalmente se afastaram, por outros meios.O poder político assiste a tudo isto com complacência e, debilitado como está, receia, tem medo, de, como no passado, ser acusado de interferir na “autonomia” dos comentadores. Tudo funciona em regimes de recados e os nossos comentadores lá vão fazendo a sua política. Mesmo sem mandato. Não é novidade. Mas convém lembrá-lo.

 

Publicado na edição de hoje do Primeiro de Janeiro

publicado por José Manuel Constantino às 09:27

11
Jan 13

O titular de um cargo público é um cidadão com iguais direitos que um qualquer outro. Mas o modo como exerce esses direitos não pode ignorar que é escrutinado em termos públicos de um modo que o vulgar cidadão o não é. Se no plano formal a distinção público/privado é fácil, no plano concreto a separação tende a diluir-se e tudo passa a ser público. Ninguém reportará a um órgão de comunicação social o sítio onde um qualquer cidadão passa férias. A coisa muda de figura se for uma figura pública.

Um governante não tem que dar qualquer justificação sobre o que faz no domínio da sua vida privada.Com quem anda, onde passa férias ou quais são as pessoas com quem se relaciona. Mas sabendo que num governante os domínios público/privado tendem a fundir-se deve acautelar tudo quanto, ainda que no âmbito da sua vida privada, pode colocar em causa a sua figura pública de governante. Se um governante pede sacríficos aos portugueses e no domínio da sua vida privada dá sinais exteriores de opulência e de vida faustosa, pode, no plano formal, ter todas as razões do mundo para gastar o que gasta, porque tem meios e recursos que o suportam, mas os governados não o levarão a sério. A sua autoridade fragiliza-se porque o seu exemplo é o contrário do que defende para os outros. Neste sentido os direitos privados não podem estar em contradição com as virtudes públicas.

Quem já exerceu cargos públicos conhece bem este problema. É muitas vezes cruel? É. Mas é  um dos custos de ser figura pública. E do grau de exigência que lhe é colocada em tudo o que envolve a pessoa. A devassa da vida privada é um dos alimentos da democracia mediática que caracteriza as sociedades contemporâneas. E em tempos de dificuldades, como aqueles que atravessamos, ainda agravam mais o modo de percecionar comportamentos privados de figuras públicas.Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Estranha-se, por isso, que haja quem continue a ignorar algo que qualquer cartilha de governação aconselha: prudência, discrição e reserva no modo como se gere a vida privada.

 

Publicado na edição de hoje do Primeiro de Janeiro

publicado por José Manuel Constantino às 09:35

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Autor: JOSÉ MANUEL CONSTANTINO
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