O tempo de governação do actual executivo revelou algo que era perceptível aquando da sua constituição: uma elevada percentagem de membros do executivo e dos gabinetes de apoio sem experiencia política. Recrutados quer nas juventudes partidárias, quer em alguns conhecidos escritórios de advogados a estrutura dirigente sofre de um acentuada adolescência política. Alguns encontrarão nesse facto uma vantagem. Gente nova não transportará vícios da classe política instalada e possuirá uma desenvoltura e arejamento que só trarão benefícios à governação. Mas a capacidade e a competência não têm idade. Pelo que o problema é menos geracional e mais meritocrático. Que provas deram na vida cívica aqueles que são escolhidos para governantes e adjuntos de governantes? Tem currículo profissional ao serviço da causa pública? Têm obra relevante que responda pela sua competência? Sabem interpretar o sentido de missão do serviço público?
Uma das coisas que tem causado maior perplexidade no governo tem sido a opção por soluções políticas, sobretudo em matéria de impostos e salários dos funcionários públicos em oposição às posições defendidas pelo PSD quando era oposição. Reler o que publicaram em livro, Pedro Passos Coelho (Mudar) ou Álvaro Santos Pereira (Portugal na Hora da Verdade – Como Vencer a Crise Nacional), é um exercício severo e doloroso. Invocam, agora, que as realidades que encontraram são diferentes da que supunham existir. Resta por explicar se a surpresa não resulta do facto de se terem preparado mal. De não terem estudado a realidade. De se equivocarem sobre o que estudaram. E, a ser assim, não estaríamos perante algo de inesperado mas de algo que não foi devidamente acautelado.
A justificação (ou desculpa?) encontrada (surpresa no que encontraram) acaba por ser um remake de governações anteriores. Um sinal de mais do mesmo. Foi assim com Durão Barroso e com José Sócrates sempre que se tratou de aumento da carga fiscal. Sempre em oposição a si próprios enquanto foram oposição. Fazendo o contrário do que defenderam. E sempre clamando por coerência.
A similitude destes comportamentos demonstram que não são as diferenças geracionais que introduzem diferenças no modo de justificar a governação. Ou dito de outro modo, apesar do lugar-comum: de falar verdade aos portugueses!
Publicado no Primeiro de Janeiro de hoje